Texto - Américo Nunes: AS REVOLUÇÕES NO MÉXICO
Francisco Madero escreveu um livro com o título a sucessão presidencial em 1910, com o subtítulo “o Partido Nacional Democrático”. Madero era um rico proprietário de terras pertencentes a uma das maiores famílias do norte do país. Ele acredita que o regime de Porfírio Diaz encontrou junto aos capitalistas seus mais fiéis apoios. O objetivo desse livro é a formação de um grande partido político que será o Partido Nacional Democrático. Madero pensava que fosse possível fazer um acordo com Diaz: este último conservaria a presidência, mas a vice-presidência seria ocupada por um membro desse partido.
No início de 1910 Madero era o único a candidato à presidência a disputar com Diaz. No dia 26 de Abril Madero e Vazquez Gomes apresentam a seguinte plataforma de governo: não reeleição, sufrágio direto, liberdade política, de imprensa e de ensino, melhoria de condições de vida dos operários; fundação de colônias agrícolas, tentativa de solução do problema do índio; luta contra os monopólios e privilégios; encorajamento à grande e sobretudo à pequena agricultura; mexicanização do pessoal das estradas de ferro; reforma do exército e ensino militar obrigatório; reforço das boas relações com os paises estrangeiros; investimentos em fundos públicos.
Evidentemente a campanha de Madero inquieta as autoridades. A 7 de junho ele é preso acusado de incitação à rebelião. Na noite de 5 ou 6 de outubro ele foge para San Antônio, no Texas onde redige Plan de San Luís. Este plano se transformou na plataforma da revolução de 1910. Madero reafirma o sufrágio universal, a não-reeleiçao presidencial. A insurreição é marcada para o dia 20 de novembro do mesmo ano.
Na visão de Nunes esse plano é muito pobre em matéria de renovação social e econômica: trata-se, sobretudo um plano político. O Programa pela candidatura era mais radical. Não propunha mais melhorara as condições de vida dos trabalhadores, proteger a raça indígena, não evoca também a necessidade de combater os monopólios e os privilégios, por exemplo.
A 13 de maio de 1910, as autoridades policiais fazem uma série de detenções contra os partidários de Madero e toma um deposito de armas e munições. A revolução parecia estar comprometida. No entanto, Madero recebe apoio de Pascual Orosco que liderou um grupo de mineiros e de Francisco Villa, um antigo ladrão de rebanhos. Além disso a família de Madero investe grandes somas de dinheiro na compra de armamento. A vitória pertence tanto aos madeiristas quanto aos federais. Após três dias de combate os revolucionários conquistam Ciudad Juárez e em seguida se estabelecem negociações de paz entre as forças revolucionárias e as do governo. Em 25 de maio, Diaz e o vice presidente se demitem. É formado um gabinete provisório por Francisco L.de la Barra, a fim de convocar eleições gerais. Nunes afirma que a queda de Diaz, não resultado de uma derrota militar importante. Trata-se de uma derrota moral. Mas o essencial é que ela é compartilhada pela opinião pública, verdadeira vencedora de Porfírio Diaz. No dia 6 de novembro Madero é eleito presidente da República em plena crise nacional.
O gabinete de Madero é constituído por liberais e conservadores. Mas de maneira geral é um governo liberal. A maior parte dos problemas sociais continuou sem solução. Percebe-se que muitas organizações de operárias foram constituídas graças às liberdades políticas asseguradas pelo novo regime. Muitas dessas organizações participaram de múltiplas greves que marcaram a crise social do governo Madero. Madero tentou reforçar o capital industrial nacional. No entanto o seu governo entra em profunda crise. Os interesses petrolíferos tentaram se aproveitar disso. Madero estava praticamente só, ainda não havia tomado medidas socioeconômicas destinados a transformar a estrutura do interior. O governo é incapaz de propor uma verdadeira reforma agrária.
Diante dessa situação Zapata se revolta reclamando as terras comunais e os terrenos usurpados dos habitantes de sua aldeia. A 25 de novembro de 1911, o Exército Zapatista promulga o plan d’Ayala, dando um conteúdo social e agrarista à revolução. Esse plano proclama que todos os bosques e águas açambarcados pelos hacendados, políticos e caciques fossem devolvidos às comunidades rurais e defendidos de arma em punho; reclama a expropriação Diaz e um terço dos bens dos grandes proprietários fundiários. Nesse documento os zapatistas acusam Madero de haver traído a revolução, de impor uma ditadura ainda mais feroz que a de Diaz. Os habitantes de Morelos constatam que a revolução, ao invés de ajudá-los a conservar suas terras, os expulsa delas. Daí a ruptura entre o madeirismo e o movimento zapatista.
Pascual Orozco também se rebelou e ao contrario do levante zapatista de Zapata, é apenas uma fase de luta pelo poder político dentro do movimento madeirista. Considerado o mais popular dos generais madeiristas, Orozco toma o Estado de Chihuahua com o apoio de numerosos madeiristas. Os generais orozquistas também elaboraram seu plano. O Plan d’Orozco. Esse plano aborda a questão do trabalho e social. Mas não tem nada de um programa “anticapitalista” reformista.
Madero propõe a divisão dos terrenos comunais, dos nacionais e a compra de alguns grandes domínios que, divididos, constituiriam pequenas propriedades. Para tanto o poder cria a Comissão Agrária Executiva que deveria empreender a “reforma agrária”; fracionar e colonizar a grande propriedade. No entanto, essa tentativa não deu certa porque Madero se recusou a aceitar as proposições da Comissão. No final de 1912 Madero se debate a uma crescente crise. Os interesses petrolíferos ingleses e o exército federal são diretamente interessados na queda de Madero. Em 16 de outubro de 1912 o general Félix Diaz desencadeia um levante armado em Veracruz. Felix Diaz é preso, condenado à morte, mas é salvo pela generosidade de Madero e será 5 meses mais tarde o principal nome da contra-revolução. A deposição de Madero por Victoriano Huerta foi um momento violento da luta pelo poder entre os grandes proprietários fundiários, os banqueiros e os setores comerciais e financeiros ligados ao capital estrangeiro. Huerta toma o poder em favor dos grandes proprietários fundiários, banqueiros e financistas ligados ao comércio com a Europa. Ele instaura um regime de terror: troca os governadores dos Estados por militares, prende 80 deputados, forçam os antigos ministros a se demitirem, os intelectuais progressistas são obrigados a fugir.
Após o assassinato de Madero e de Pino Suárez, o governo de Huerta é reconhecido por quase todos os governadores dos Estados, menos Venustiano Carranza, que tentou reagrupar as forças contrárias a Huerta e propor um enfrentamento. O plano dele foi chamado de Plan de Guadalupe. Carranza acreditava que em primeiro lugar era preciso apelar para a união patriótica contra a Ditadura Militar. O Plano é essencialmente político. Repudia o governo de Huerta, bem como os novos poderes legislativo e judiciário. Carranza se qualifica como o primeiro chefe e tenta descredibilizar o governo de Huerta.
Diante do avanço militar dos constitucionalistas, Huerta dissolve as câmaras federais e decreta o recrutamento forçado. A pequena burguesia financista começa a manifestar certo descontentamento com o governo de Huerta. Ele é inclusive hostilizado pelo presidente dos EUA Woodrow Wilson por causa da questão do controle da exploração e Diaz produção petrolífera mexicana. Wilson então organiza represarias e apoio político aos constitucionalistas, inclusive com a imposição de um bloqueio econômico ao México. O Cônsul dos EUA assegura aos constitucionalistas que quer apenas a volta da ordem e da Constituição. Com efeito, a ocupação norte americano se limita a Vera Cruz, o que atrapalhou os planos de Huerta que queria apelar para o patriotismo para desvirtuar a luta dos constitucionalistas.
O conflito parece inevitável, no entanto, firma-se um protocolo de acordo. Em 23 de junho de 1914 Zacatecas é tomada pela Divisão do Norte, dirigida por Villa. Huerta se demite em 15 de julho. Essa vitória do exército constitucionalista representou a vitória da burguesia nascente.
Acontece, em seguida a ruptura entre Villa e Carranza por motivos culturais e sociais. Para o exército popular do sul carranza é um burguês que não pode reconhecer plan d’ayala,um ambicioso disposto a atrapalhar o trabalho do povo para os Zapatistas. Em setembro villa faz aparecer um manifesto contra Carranza, acusando-o de haver rompido o pacto de Torreon. Este manifesto de ruptura se relaciona à intenção de Carranza de elevar Divisão de Norte à categoria de Corpo do Exército, o que significaria a colocar Villa sob as ordens de Obregón. Villa se retira com suas tropas para Chihuahua. Carranza nesse ínterim o convida a participar da Convenção dos generais constitucionalistas a fim de discutir o programa da revolução. Villa se recusa a ir ao México. A convenção foi realizada em Aguascalientes, limite entre os territórios controlados por vilistas e carranzitas.
Em 19 de outubro a Convenção designa uma delegação para convidar Villa para participar dos trabalhos e uma outra foi convidar Zapata. Depois de longos debates os pontos do plan d’Ayala referentes à reforma agrária foram adotadas pela Convenção. A Convenção resolveu afastar Villa e Carranza de suas funções e prosseguiu seus trabalhos com a intenção de eleger um presidente provisório da República. Carranza não aceita todas as decisões da Convenção ele objetivava afastar Villa e Zapata para controlar as decisões da Convenção. A 4 de dezembro de 1914 Villa e Zapata fazem em Xochimilco um tratado de mesmo nome pelo qual se transformam em verdadeiros senhores da convenção. Deixando um pouco de lado todas e picuinhas conflitos que marcaram a crise pelo qual passava o México, a Convenção não conseguiu atender as necessidades por não ter conseguido arrebanhar para sua causa os trabalhadores recrutados pela Casa Del Obrero Mundial.
Constituição foi promulgada em 5 de fevereiro de 1917. Carranza foi transformado em presidente da República e deve promover uma luta encarniçada para impor os interesses nacionais sobre as reservas naturais do subsolo. Com a eleição de Obregón para a presidência (1920-1924), abre-se o chamado período da construção. De fato a reforma agrária constitucionalista em profundidade começa com Obregón. A reforma por sinal se choca com inúmeras dificuldades. Ela foi feita em pequena escala. Era colocado à disposição apenas uma pequena parte do latifúndio, além disso, só receberia terras aqueles que não tivessem mais de um herdeiro.
(Lucimar Simon)
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