ESCOLA METÓDICA E MATERIALISMO HISTÓRICO
A escola metódica tem como principal expoente, Leopold Von Ranke, um historiador alemão que nega a filosofia da história, por considerá-la subjetiva e tenta transformar a história em ciência, a separando da literatura. Primeiramente vamos ver um panorama do século XIX, nessa época as ciências naturais dominavam o âmbito acadêmico e científico, principalmente graças à criação dos métodos de pesquisas empírico-cientificos da matemática, física, química e biologia, acreditava-se que poderiam esquematizar e explicar o universo através de leis e enunciados. As ciências humanas estavam em crise de identidade, pois não podiam ser empiricamente testadas, portanto não eram ciências validas, não possuíam métodos. Com a história não foi diferente, desde séculos passados era um misto de literatura, filosofia e relatos, Ranke a fim de transformar história em ciência a adaptando as leis naturais separou-se da literatura buscando métodos ,e o encontrado foi o uso empírico dos documentos, necessariamente documentos oficiais de caráter diplomático e militar. Os documentos garantiriam a objetividade e a validade cientifica.
Por serem documentos oficiais acreditava Ranke estarem totalmente puros, sem influências ideológicas e livres de mentiras, portanto objetivos. A função do historiador seria criticar o documento externa e internamente, ou seja, verificar se o papel era o mesmo usado na época, se a escrita e termos lingüísticos condiziam com os da mesma data e assim por diante, depois o historiador apenas extrairia do documento a verdade, sem fazer qualquer questionamento dos fatos ou se posicionar quanto ao que encontra, qualquer tipo de reflexão impregnaria o documento de subjetividade. Para Ranke a história existe nos documentos inerentemente ao homem, a função do historiador seria pegar na totalidade essa historia do documento e narrar numa seqüência cronológica, assim a mesma objetividade das ciências naturais seria encontrada. O historiador não deveria tomar posição, nem fazer juízo de valor de fatos já passados, para a história metódica -assim chamada porque criou métodos que legitimavam história como ciência- a história estava morta, era passado e não influenciava o presente.
Como essa história tratava necessariamente de documentos oficiais, era uma história individual, fragmentada em grandes nomes que se interligavam em nações. No século XIX o sentimento de nação estava em formação e a história mostrando os grandes nomes do seu país, formava cidadãos patrióticos. Com esse objetivo e com técnicas já definidas que a separavam da arte, a história rapidamente se infiltrou em universidades e escolas ganhando espaço entre as ciências, ela se isola e de modo imperial quer ser a grande ciência humana.
A história tinha poder político e, era usada pelo estado, tanto na formação patriótica dos cidadãos, quanto para justificar seus inimigos, através da história se mostrava que sempre a nação X combatia com a nação Y, assim as guerras eram justificadas como naturais tanto quanto os inimigos e isso exaltava o sentido geral de nação.
Fixado os métodos e paradigmas da história cientifica ela se espalha pela França, graças a dois historiadores franceses que estudaram em universidades alemãs, Langlois e Seignobos criaram manuais introdutórios a história que se difundiram por todo o meio acadêmico francês. Na França a escola metódica ganhou um espírito iluminista, o que remetia a racionalidade e rigidez dos métodos objetivos.
Apesar de o século XIX ser dominados pelos metódicos, isso não quer dizer que inexistia outros tipos de historiadores, um exemplo disso é Michelet um historiador preocupado com as causas sociais, ele fazia a historia dos fracos, dos derrotados, dos pobres, das pessoas que não conseguiam por seus nomes na história tradicional, exclusivamente história dos políticos e grandes heróis.
Depois da primeira grande guerra mundial, o sentimento de que a ciência estava levando o homem sempre rumo ao progresso foi dilacerado, viu-se a capacidade de matar que a ciência tinha criado, isso causou um mal estar na humanidade que vai reestruturar não só a história, como todas as ciências humanas. A história marxista combate a metódica, mas a geração dos Analles é que numa batalha definitiva e feroz derrubam as duas historias “historiacizantes”.
Materialismo Histórico
KARL MARX nasceu em Treves, na Prússia, em 1818. Era fi lho de um advogado judeu convertido ao protestantismo. Foi filósofo, historiador, economista e jornalista. Deixou numerosos escritos como "Manuscritos econômicos e filosóficos", "0 18 Brumário de Luís Napoleão", "Contribuição à crítica da economia política", "0 Capital", e, em conjunto com Engels, "A Ideologia Alemã", "Manifesto Comunista", entre outros. Segundo Engels, as duas grandes descobertas cientificas de Marx foram: a concepção do materialismo histórico e a teoria da mais-valia. Ativista político fundou e dirigiu a Primeira Internacional Operária, de 1867 a 1873. Em 1843, exilou se em Paris e posteriormente em Bruxelas e em Londres, onde morreu em 1883.
FRIEDRICH ENGELS (1820/1895) era filho de um rico industrial do ramo têxtil, da Renânia. Escreveu "A situação, das classes trabalhadoras na Inglaterra", "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", "A origem da família, da propriedade privada e do Esta do", entre outras obras. Colaborou intensamente com Marx e foi responsável pela organização e publicação do segundo e do terceiro volumes de "0 Capital", após a morte de Marx, com base em manuscritos e notas deixados por ele.
As idéias de Karl Marx e de Friedrich Engels sofreram influência das principais correntes de pensamento de sua época, como a economia liberal inglesa de Adam Smith e David Ricardo; o socialismo utópico dos franceses Fourier e Saint Simon; a dialética (l) e o materialismo (2) dos alemães Hegel e Ludwig Feurbach.
Marx utilizou o método dialético para explicar as mudanças importantes ocorridas na história da humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus elementos contraditórios, buscando encontrar aquele elemento responsável pela sua transformação num novo fato, dando continuidade ao processo histórico. Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época.
Assim, a base material ou econômica constitui a "infraestrutura" da sociedade, que exerce influência direta na "super-estrutura", ou seja, nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas (que são as ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite a produção) e por relações de produção (relações entre os que são proprietários dos meios de produção as terras, as matérias primas, as máquinas - e aqueles que possuem apenas a força de trabalho).
Ao se desenvolverem as forças produtivas trazem conflito entre os proprietários e os não-proprietários dos meios de produção. 0 conflito se resolve em fav or das forças produtivas e surgem relações de produção novas, que já haviam começado a se delinear no interior da sociedade antiga. Com isso, a super-estrutura também se modifica e abre-se possibilidade de revolução social.
No Prefácio do livro "Contribuição à crítica da economia política", Marx identificou na História, de maneira geral, os seguintes estágios de desenvolvimento das forças produtivas, ou modos de produção: o asiático (comunismo primitivo), o escravista (da Grécia e de Roma), o feudal e o burguês, o mais recente e o último baseado no antagonismo das classes porque dará lugar ao comunismo, sem classes, sem Estado e sem desigualdades sociais.
A evolução de um modo de produção para o outro ocorreu a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da luta entre as classes sociais predominantes em cada período. Assim, o movimento da História possui uma base material, econômica e obedece a um movimento dialético. A passagem do modo de produção feudal, para o modo de produção capitalista burguês, e um exemplo claro:
"0 modo de produção feudal é o fato positivo, a afirmação mas já traz dentro de si o germe de sua própria negação: o desenvolvimento de suas forças produtivas propicia o surgimento da burguesia. À medida que estas forças produtivas se desenvolvem, elas vão negando as relações feudais de produção e introduzindo as relações capitalistas de produção. A luta entre a nobreza e a burguesia vai se acirrando; em um determinado ponto deste desenvolvimento ocorre a ruptura e aparece o terceiro elemento mais desenvolvido, que é mo do de produção capitalista. É, portanto, 5 luta entre as classes que faz mover a História.'' (SPINDEL, A. op. cit. p. 39.)
Marx e Engels começaram a formular a concepção matéria da História quando escreveram juntos "A Ideologia Alemã", em 1845/46; o materialismo histórico é, de acordo com Marx, o "fio condutor" de todos os estudos subseqüentes. Os conceitos básicos do Materialismo Histórico(3) constituem uma teoria científica da História, vista até então como uma simples narração de fatos históricos. Ele revolucionou a maneira de se interpretar a ação dos homens na História, abrindo ao conheci mento, uma nova ciência e aos homens uma nova visão filosófica do mundo: o Materialismo Dialético.
Notas:
(1) A- dialética hegelian afirma que cada conceito possui em si o seu contrário, cada afirmação, a sua negação. 0 mundo não é um conjunto de coisas prontas e acabadas, mas sim o resultado do movimento gerado pelo choque destes antagonismos e destas contradições. A afirmação traz em si o germe de sua própria negação (tese X antítese); depois de se desenvolver, esta negação entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um terceiro elemento mais evoluído, que Hegel chamou de "síntese" ou "negação da negação". (SPINDEL, Arnaldo. 0 que Socialismo.São Paulo, Brasiliense, 1983, p. 31.)
(2)Em seu sentido mais amplo, o materialismo afirma que tudo o que existe é apenas matéria, ou pelo menos, depende da matéria. Em sua forma mais geral, afirma que a realidade humana é essencial mente material. (Dicionário do Pensamento Marxista, ed. por Tom Bottomore, Rio de Janeiro, zahar, 1988, p. 254.) (3) Esses conceitos são: forças produtivas, relações de produção, modo de produção, meios de produção, infra-estrutura, super-estrutura, determinação em última instância pela economia, classe social, luta de classes, transição, revolução, etc.
Sites:
http://www.scribd.com/doc/7320750/As-Correntes-Filosoficas-Que-Orientam-as-Pesquisas-Em-Educacao
(Lucimar Simon)
NESTE BLOG TENHO INTENÇAO DE PUBLICAR INFORMAÇOES HISTORICAS, FATOS, DADOS HISTORIOGRAFICOS, TRABALHOS ACADEMICOS E OUTROS ASSUNTOS PERTINENTES COM UMA REALIDADE HISTORICA E O CONTEUDO APRECIADO EM SALA DE AULA NO CURSO DE GRADUAÇAO EM HISTORIA PELA UNIVERSISDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO (UFES) ESTA IMAGEM DE FUNDO É DA DEUSA CLIO A DEUSA PROTETORA DOS HISTORIADORES
domingo, 30 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Texto: OS PIONEIROS DO MARXISMO NA AMÉRICA LATINA
Texto – CASANOVA, Pablo González. OS PIONEIROS DO MARXISMO NA AMÉRICA LATINA.
A difusão do marxismo pela Europa deu-se de forma lenta, pois muitos textos teóricos importantes não foram traduzidos, salvo alguns em francês e em espanhol. Mesmo no caso espanhol, houve distorções quanto às idéias marxistas, que foram recebidas por anarquistas espanhóis. As idéias de luta política, participação da classe operária encontraram substrato na ala reformista da esquerda espanhola, porém era menos expressiva.
Na América Latina a difusão do pensamento marxista se assemelhou ao da Espanha. Entre o final do século XIX e início do século XX, o marxismo não era bem conhecido nos países mais desenvolvidos da América Latina: Brasil, Argentina e México. Encontravam-se nos escritos da época “um marxismo corrigido e adaptado, simples e mecanicista [...]” (p. 18). Além da escassez e da má compreensão dos textos, acrescenta-se a dificuldade de domínio do conceito novo de dialética. O conceito chocava-se com um pensamento autoritário e metafísico de difícil entendimento, e esbarrava-se com as idéias colonialistas e imperialistas, comuns da realidade sócio-política latino-americanas.
Apesar desse quadro de obstáculos reais e conceituais, a compreensão do pensamento marxista e revolucionário ocorreu, de forma desigual, na América Latina, tendo no México seu caso extremado. A Revolução Mexicana (1910-17), não sofreu influências marxistas, mesmo após a consolidação do novo regime, que teve passagens do anarquismo ao trabalhismo e ao nacionalismo. Somente na segunda metade do séc. XX começou-se a se considerar o pensamento e categorias marxistas. No restante da Am. Latina, três casos significativos de expressão do pensamento marxista podem ser destacados: o brasileiro, onde se fundiu marxismo com positivismo; o argentino, com um marxismo expressado nos moldes reformistas; e o cubano, que com o posicionamento revolucionário de Jose Martí (que não era marxista), acrescentou-se a do primeiro marxista revolucionário, Baliño.
No Brasil, no final do século XIX, o pensamento marxista encontrou voz no movimento anarquista e anarco-sindicalista, entretanto de forma equivocada. Como afirma o autor baseado em Astrogildo Pereira, que analisa os escritos do Dr. Silvério Fontes (considerado o primeiro brasileiro de tendência marxista), houve, ainda, no mesmo período, uma associação da idéia marxista com a visão evolucionista, muito forte nesse momento. Nesse sentido, o médico defenderia o oposto do marxismo, ou seja, o reformismo e o evolucionismo vulgar; a idéia de revolução estava ligada à idéia de progresso. Fontes esteve presente em episódios da organização e propaganda socialista no Brasil, e, ainda que com certas confusões tenha escrito um manifesto do partido socialista, alcançou algum rigor e clareza ao explicar o conceito de luta de classes de Marx. O Manifesto de Fontes chama os operários brasileiros a lutarem contra a “classe opressora”, e destaca as reformas sociais que ocorriam na Europa como uma alternativa para o caso brasileiro. No texto, também, havia uma crítica às “ciências positivas”, que estimulavam a concentração de capital, bem como o surgimento de monopólios econômicos. Dessa forma, nota-se que sua noção marxista o levou a passar do positivismo político ao positivismo socialista.
Em 1901, o autor Euclides da Cunha, de Os Sertões, inaugurou o “Clube Internacional Filhos do Trabalho”, que tinha como proposta divulgar o marxismo, denominado por ele de “racionalismo”. Em outros de seus escritos, Euclides buscou certa afinidade com os ideais marxistas, criticando nomes do chamado “socialismo utópico” e elogiando o “socialismo científico” de Marx. Para Euclides, um dos pontos positivos do marxismo foi que este apresentava uma teoria que expunha o problema da exploração capitalista, e apresentava uma solução científica para esse problema: a consciência e a organização política dos trabalhadores; embora o autor não fosse marxista, pois suas raízes ideológicas também eram positivistas. A denúncia de seus textos (literários, não sistemáticos) estava focada no colonialismo, mesmo sendo ele um colonialista; mas era, sobretudo, um nacionalista. Como muitos brasileiros de sua época, misturou “socialismo” com um nacionalismo que via nas atitudes tradicionais colonialistas e escravagistas um atraso para o “progresso” do país, visto por ele como o fim da exploração, por mais que isso possa parecer ambíguo em suas idéias em relação a suas ações.
Na Argentina, o pensamento marxista foi impulsionado por Germán Avé Lallemand, um alemão emigrado em Buenos Aires, que fundou, junto com demais alemães, o “Clube Vorwäts”, e também diretor e fundador do El Obrero, considerado o primeiro periódico marxista da América Latina. O alemão trabalhou no país no sentido de propagar os ideais marxistas, aliado a uma classe operária de base anarquista, muitas vezes contrária às idéias socialistas. Para Lallemand, o marxismo na Argentina tinha um longo percurso a percorrer até chegar num nível de consciência de classe desejável, pois na prática os trabalhadores argentinos até possuíam certa agitação socialista, entretanto, na teoria, isso não era consistente, uma vez que essa massa, em sua maioria, carecia de uma formação mais teórica.
As análises de Lallemand sobre a sociedade argentina não considerava, o que era recorrente nas análises marxistas latino-americanas da época, os problemas históricos locais (caudilhismo) e o imperialismo nascente. Para o intelectual alemão, a expansão do capitalismo europeu e norte-americano nos países atrasados era positiva, pois, dessa forma, acelerava o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, desencadeando o processo da revolução social. Suas críticas ao capitalismo ficaram circunscritas à negação formal do capitalismo como sistema social. Nesse sentido, Lallemand “pensou o desenvolvimento da luta de classes a partir de um processo que ainda não mostrava nem todas as possibilidades do desenvolvimento imperialista, nem todas as possibilidades do desenvolvimento revolucionário (p. 26)”.
Lallemand e os redatores do jornal escreviam em seus artigos defesas de uma sociedade burguesa, enquanto avanço civilizacional que conduziria para a sociedade comunista. Todavia, esse discurso esvaziou o combate político contra o latifúndio e às práticas imperialistas. Seu apoio privilegiava o desenvolvimento do capitalismo no campo, que, segundo ele, seria fonte para o crescimento do proletariado rural. Assim, não perceberam as articulações de poder que surgiam e que se desenvolveriam com o imperialismo, a ponto de acreditarem que os EUA poderiam intervir no país contra as oligarquias latifundiárias.
Na última década do século XIX, o socialismo reformista ganhou força na Argentina, o que levou ao grupo liderado por Lallemand a severas críticas ao Partido Socialista (1894), encabeçado por Juan B. Justo, seu fundador. Essa linha ideológica dentro do partido dominou muitos argentinos anarquistas, que passaram a defender idéias evolucionistas e positivistas. Os redatores de El Obrero se posicionaram frente aos anarquistas, propondo a luta política necessária na imediaticidade; e aos reformistas, propondo a luta final pelo poder e a instauração do socialismo.
O reformismo argentino aliou-se com projetos de uma oligarquia crioula burguesa dependente, e isso fortaleceu uma tradição de lutas que se remontava à época do governo de Sarmiento (ex-presidente argentino anti-caudilhista que implementou várias reformas liberais), que no cerne ideológico de suas políticas estavam presentes às dicotomias civilização versus barbárie, cidade versus campo. Assim, segundo Casanova “o raciocínio revolucionário encontrou dificuldades enormes para precisar as categorias do processo de libertação latino-americano e argentino” (p. 29).
Diferentemente do que ocorreu na Argentina, em Cuba uma postura antiimperialista foi assumida por uma das figuras políticas mais importantes do país, Jose Martí, que participou ativamente do processo de independência cubana. Martí, inserido nessa tradição revolucionária de luta contra o imperialismo, vivenciada durante a independência, foi evocado durante a Revolução Cubana (meados do século XX) por seus líderes. Ele faz parte de uma cultura revolucionária do país, e, dessa forma, é o precursor moral, político, revolucionário e prático da Revolução Cubana.
Contudo, afirmar que Martí era um revolucionário não implica em afirmar que fosse socialista, mesmo com as associações que foram feitas em torno disso. Ele foi um nacionalista revolucionário que lutou contra o colonialismo e nos primeiros embates do imperialismo, e, por essa razão, foi o precursor do pensamento socialista latino-americano, na medida em que colocou um problema que o pensamento marxista de sua época até então não havia considerado o da libertação dos povos coloniais do imperialismo.
O legado de Martí consistiu em criar uma base sólida de enfrentamento de problemas como o do reformismo, o da espontaneidade anarquista e o da luta de classes que não prioriza o antiimperialismo. Seu inconformismo tendia a mobilizar as classes médias em direção ao povo e aos trabalhadores, e aproximá-los à luta pelo poder. Junto com Martí, Carlos Baliño, que era marxista, diferente de Martí, fundou o Partido Revolucionário Cubano (1892), que combateu o colonialismo contra a Espanha, além de combater o reformismo e o apoliticismo. Mesmo não sendo um marxista, Martí pode ser considerado um revolucionário, mas que se coloca a favor da libertação de um povo contra o imperialismo, mais do que uma classe em face da burguesia. Apesar disso, ele levantou os mesmo problemas que Marx suscita, salvo suas diferenças históricas e ideológicas.
Baliño, que já era socialista e revolucionário antes da fundação do partido, defendia o socialismo científico associado a uma lógica e a uma luta revolucionária mais reveladoras. Seus escritos se destacam pela exatidão com que expressou observações teóricas concisas, aplicadas a vincular os ideais do socialismo com o movimento das lutas revolucionárias e seus problemas atuais. A complexidade do discurso encontrado em Baliño fica evidenciada quando este supõe um vínculo do sistema dialético do “socialismo científico” com a ação revolucionária, propriamente dita. Assim, “o ‘amplo raciocínio’ parte da ‘escravidão visível a patente’, para fazer sua ‘última análise’, sem derivar desta as linhas da ação imediata” (p. 38), que se deduzem da própria luta, seja ela por via violenta ou pacífica. Para Baliño, a necessidade encontrada na imediaticidade da ação revolucionária conduzirá a determinada opção, se se tem como objetivo final a transformação social. Nesse sentido, dá importância ao fato de se pensar e de se educar a classe trabalhadora, no que tange às lutas políticas, democráticas e sindicais, essencialmente contrárias ao inconformismo; não há espaço aqui para a defesa do reformismo.
(Lucimar Simon)
A difusão do marxismo pela Europa deu-se de forma lenta, pois muitos textos teóricos importantes não foram traduzidos, salvo alguns em francês e em espanhol. Mesmo no caso espanhol, houve distorções quanto às idéias marxistas, que foram recebidas por anarquistas espanhóis. As idéias de luta política, participação da classe operária encontraram substrato na ala reformista da esquerda espanhola, porém era menos expressiva.
Na América Latina a difusão do pensamento marxista se assemelhou ao da Espanha. Entre o final do século XIX e início do século XX, o marxismo não era bem conhecido nos países mais desenvolvidos da América Latina: Brasil, Argentina e México. Encontravam-se nos escritos da época “um marxismo corrigido e adaptado, simples e mecanicista [...]” (p. 18). Além da escassez e da má compreensão dos textos, acrescenta-se a dificuldade de domínio do conceito novo de dialética. O conceito chocava-se com um pensamento autoritário e metafísico de difícil entendimento, e esbarrava-se com as idéias colonialistas e imperialistas, comuns da realidade sócio-política latino-americanas.
Apesar desse quadro de obstáculos reais e conceituais, a compreensão do pensamento marxista e revolucionário ocorreu, de forma desigual, na América Latina, tendo no México seu caso extremado. A Revolução Mexicana (1910-17), não sofreu influências marxistas, mesmo após a consolidação do novo regime, que teve passagens do anarquismo ao trabalhismo e ao nacionalismo. Somente na segunda metade do séc. XX começou-se a se considerar o pensamento e categorias marxistas. No restante da Am. Latina, três casos significativos de expressão do pensamento marxista podem ser destacados: o brasileiro, onde se fundiu marxismo com positivismo; o argentino, com um marxismo expressado nos moldes reformistas; e o cubano, que com o posicionamento revolucionário de Jose Martí (que não era marxista), acrescentou-se a do primeiro marxista revolucionário, Baliño.
No Brasil, no final do século XIX, o pensamento marxista encontrou voz no movimento anarquista e anarco-sindicalista, entretanto de forma equivocada. Como afirma o autor baseado em Astrogildo Pereira, que analisa os escritos do Dr. Silvério Fontes (considerado o primeiro brasileiro de tendência marxista), houve, ainda, no mesmo período, uma associação da idéia marxista com a visão evolucionista, muito forte nesse momento. Nesse sentido, o médico defenderia o oposto do marxismo, ou seja, o reformismo e o evolucionismo vulgar; a idéia de revolução estava ligada à idéia de progresso. Fontes esteve presente em episódios da organização e propaganda socialista no Brasil, e, ainda que com certas confusões tenha escrito um manifesto do partido socialista, alcançou algum rigor e clareza ao explicar o conceito de luta de classes de Marx. O Manifesto de Fontes chama os operários brasileiros a lutarem contra a “classe opressora”, e destaca as reformas sociais que ocorriam na Europa como uma alternativa para o caso brasileiro. No texto, também, havia uma crítica às “ciências positivas”, que estimulavam a concentração de capital, bem como o surgimento de monopólios econômicos. Dessa forma, nota-se que sua noção marxista o levou a passar do positivismo político ao positivismo socialista.
Em 1901, o autor Euclides da Cunha, de Os Sertões, inaugurou o “Clube Internacional Filhos do Trabalho”, que tinha como proposta divulgar o marxismo, denominado por ele de “racionalismo”. Em outros de seus escritos, Euclides buscou certa afinidade com os ideais marxistas, criticando nomes do chamado “socialismo utópico” e elogiando o “socialismo científico” de Marx. Para Euclides, um dos pontos positivos do marxismo foi que este apresentava uma teoria que expunha o problema da exploração capitalista, e apresentava uma solução científica para esse problema: a consciência e a organização política dos trabalhadores; embora o autor não fosse marxista, pois suas raízes ideológicas também eram positivistas. A denúncia de seus textos (literários, não sistemáticos) estava focada no colonialismo, mesmo sendo ele um colonialista; mas era, sobretudo, um nacionalista. Como muitos brasileiros de sua época, misturou “socialismo” com um nacionalismo que via nas atitudes tradicionais colonialistas e escravagistas um atraso para o “progresso” do país, visto por ele como o fim da exploração, por mais que isso possa parecer ambíguo em suas idéias em relação a suas ações.
Na Argentina, o pensamento marxista foi impulsionado por Germán Avé Lallemand, um alemão emigrado em Buenos Aires, que fundou, junto com demais alemães, o “Clube Vorwäts”, e também diretor e fundador do El Obrero, considerado o primeiro periódico marxista da América Latina. O alemão trabalhou no país no sentido de propagar os ideais marxistas, aliado a uma classe operária de base anarquista, muitas vezes contrária às idéias socialistas. Para Lallemand, o marxismo na Argentina tinha um longo percurso a percorrer até chegar num nível de consciência de classe desejável, pois na prática os trabalhadores argentinos até possuíam certa agitação socialista, entretanto, na teoria, isso não era consistente, uma vez que essa massa, em sua maioria, carecia de uma formação mais teórica.
As análises de Lallemand sobre a sociedade argentina não considerava, o que era recorrente nas análises marxistas latino-americanas da época, os problemas históricos locais (caudilhismo) e o imperialismo nascente. Para o intelectual alemão, a expansão do capitalismo europeu e norte-americano nos países atrasados era positiva, pois, dessa forma, acelerava o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, desencadeando o processo da revolução social. Suas críticas ao capitalismo ficaram circunscritas à negação formal do capitalismo como sistema social. Nesse sentido, Lallemand “pensou o desenvolvimento da luta de classes a partir de um processo que ainda não mostrava nem todas as possibilidades do desenvolvimento imperialista, nem todas as possibilidades do desenvolvimento revolucionário (p. 26)”.
Lallemand e os redatores do jornal escreviam em seus artigos defesas de uma sociedade burguesa, enquanto avanço civilizacional que conduziria para a sociedade comunista. Todavia, esse discurso esvaziou o combate político contra o latifúndio e às práticas imperialistas. Seu apoio privilegiava o desenvolvimento do capitalismo no campo, que, segundo ele, seria fonte para o crescimento do proletariado rural. Assim, não perceberam as articulações de poder que surgiam e que se desenvolveriam com o imperialismo, a ponto de acreditarem que os EUA poderiam intervir no país contra as oligarquias latifundiárias.
Na última década do século XIX, o socialismo reformista ganhou força na Argentina, o que levou ao grupo liderado por Lallemand a severas críticas ao Partido Socialista (1894), encabeçado por Juan B. Justo, seu fundador. Essa linha ideológica dentro do partido dominou muitos argentinos anarquistas, que passaram a defender idéias evolucionistas e positivistas. Os redatores de El Obrero se posicionaram frente aos anarquistas, propondo a luta política necessária na imediaticidade; e aos reformistas, propondo a luta final pelo poder e a instauração do socialismo.
O reformismo argentino aliou-se com projetos de uma oligarquia crioula burguesa dependente, e isso fortaleceu uma tradição de lutas que se remontava à época do governo de Sarmiento (ex-presidente argentino anti-caudilhista que implementou várias reformas liberais), que no cerne ideológico de suas políticas estavam presentes às dicotomias civilização versus barbárie, cidade versus campo. Assim, segundo Casanova “o raciocínio revolucionário encontrou dificuldades enormes para precisar as categorias do processo de libertação latino-americano e argentino” (p. 29).
Diferentemente do que ocorreu na Argentina, em Cuba uma postura antiimperialista foi assumida por uma das figuras políticas mais importantes do país, Jose Martí, que participou ativamente do processo de independência cubana. Martí, inserido nessa tradição revolucionária de luta contra o imperialismo, vivenciada durante a independência, foi evocado durante a Revolução Cubana (meados do século XX) por seus líderes. Ele faz parte de uma cultura revolucionária do país, e, dessa forma, é o precursor moral, político, revolucionário e prático da Revolução Cubana.
Contudo, afirmar que Martí era um revolucionário não implica em afirmar que fosse socialista, mesmo com as associações que foram feitas em torno disso. Ele foi um nacionalista revolucionário que lutou contra o colonialismo e nos primeiros embates do imperialismo, e, por essa razão, foi o precursor do pensamento socialista latino-americano, na medida em que colocou um problema que o pensamento marxista de sua época até então não havia considerado o da libertação dos povos coloniais do imperialismo.
O legado de Martí consistiu em criar uma base sólida de enfrentamento de problemas como o do reformismo, o da espontaneidade anarquista e o da luta de classes que não prioriza o antiimperialismo. Seu inconformismo tendia a mobilizar as classes médias em direção ao povo e aos trabalhadores, e aproximá-los à luta pelo poder. Junto com Martí, Carlos Baliño, que era marxista, diferente de Martí, fundou o Partido Revolucionário Cubano (1892), que combateu o colonialismo contra a Espanha, além de combater o reformismo e o apoliticismo. Mesmo não sendo um marxista, Martí pode ser considerado um revolucionário, mas que se coloca a favor da libertação de um povo contra o imperialismo, mais do que uma classe em face da burguesia. Apesar disso, ele levantou os mesmo problemas que Marx suscita, salvo suas diferenças históricas e ideológicas.
Baliño, que já era socialista e revolucionário antes da fundação do partido, defendia o socialismo científico associado a uma lógica e a uma luta revolucionária mais reveladoras. Seus escritos se destacam pela exatidão com que expressou observações teóricas concisas, aplicadas a vincular os ideais do socialismo com o movimento das lutas revolucionárias e seus problemas atuais. A complexidade do discurso encontrado em Baliño fica evidenciada quando este supõe um vínculo do sistema dialético do “socialismo científico” com a ação revolucionária, propriamente dita. Assim, “o ‘amplo raciocínio’ parte da ‘escravidão visível a patente’, para fazer sua ‘última análise’, sem derivar desta as linhas da ação imediata” (p. 38), que se deduzem da própria luta, seja ela por via violenta ou pacífica. Para Baliño, a necessidade encontrada na imediaticidade da ação revolucionária conduzirá a determinada opção, se se tem como objetivo final a transformação social. Nesse sentido, dá importância ao fato de se pensar e de se educar a classe trabalhadora, no que tange às lutas políticas, democráticas e sindicais, essencialmente contrárias ao inconformismo; não há espaço aqui para a defesa do reformismo.
(Lucimar Simon)
domingo, 16 de maio de 2010
Texto: RESUMO SOBRE O EVENTO: MESA REDONDA (17/11/2009)
RESUMO SOBRE O EVENTO: MESA REDONDA (17/11/2009)
Norma Musgo Mendes
A região sul da Lusitânia: Uma percepção arqueológica da mudança do espaço urbano.
Nesta conferencia a historiadora Norma Musgo Mendes têm o objetivo de apresentar alguns resultados parciais obtidos com o projeto que executa, como projeto de bolsa de extensão e pesquisas. Com uma analise das mudanças das paisagens da região do Algarves da província da Lusitânia, sob o domínio romano a partir do século III que, em conjunto com os dados extraídos de documentos e textos, vai possibilitar um entendimento do processo de romanização na referida região, com destaque para a construção do espaço urbano. Nesta lógica ela segue apresentando dados, e mapas das áreas urbanas sua dificuldades torrenciais, políticas, econômicas e administrativas. As linhas e traçados urbanos já são super valorizados neste período e a arquitetura urbana já vem sendo valorizada em diversos aspectos como navegação, importação, exportação, fortalecimento comercial e criação de oportunidades e fortalecimento regional.
Lana Lage da Gama Lima
Polícia e violência de gênero.
A expositora tem por objetivo levar a um entendimento claro sobra à construção de gênero na civilização cristã ocidental: matrizes culturais. O patriarcalismo como modelo ideológico e as representações de gêneros na sociedade brasileira. Gênero e violência contra a mulher. O feminismo e os “direitos humanos das mulheres”. Políticas públicas e violência de gêneros: a gênese das delegacias especializadas no atendimento a mulher vitima de violência. Administração de conflitos de gêneros nas delegacias de policia da lei 9.099, a Lei Maria da Penha. Neste contexto segue com dados estatísticos sobra às ações e atuações dos agentes incondicionais bem como autoridades e defensores das políticas de proteção das mulheres contra violência e outras formas de intimidação por ela sofrida dentro da sociedade. As inovações e as deliberações visam garantir teoricamente a condição inviolável da integridade geral dos gêneros.
(Lucimar Simon)
Norma Musgo Mendes
A região sul da Lusitânia: Uma percepção arqueológica da mudança do espaço urbano.
Nesta conferencia a historiadora Norma Musgo Mendes têm o objetivo de apresentar alguns resultados parciais obtidos com o projeto que executa, como projeto de bolsa de extensão e pesquisas. Com uma analise das mudanças das paisagens da região do Algarves da província da Lusitânia, sob o domínio romano a partir do século III que, em conjunto com os dados extraídos de documentos e textos, vai possibilitar um entendimento do processo de romanização na referida região, com destaque para a construção do espaço urbano. Nesta lógica ela segue apresentando dados, e mapas das áreas urbanas sua dificuldades torrenciais, políticas, econômicas e administrativas. As linhas e traçados urbanos já são super valorizados neste período e a arquitetura urbana já vem sendo valorizada em diversos aspectos como navegação, importação, exportação, fortalecimento comercial e criação de oportunidades e fortalecimento regional.
Lana Lage da Gama Lima
Polícia e violência de gênero.
A expositora tem por objetivo levar a um entendimento claro sobra à construção de gênero na civilização cristã ocidental: matrizes culturais. O patriarcalismo como modelo ideológico e as representações de gêneros na sociedade brasileira. Gênero e violência contra a mulher. O feminismo e os “direitos humanos das mulheres”. Políticas públicas e violência de gêneros: a gênese das delegacias especializadas no atendimento a mulher vitima de violência. Administração de conflitos de gêneros nas delegacias de policia da lei 9.099, a Lei Maria da Penha. Neste contexto segue com dados estatísticos sobra às ações e atuações dos agentes incondicionais bem como autoridades e defensores das políticas de proteção das mulheres contra violência e outras formas de intimidação por ela sofrida dentro da sociedade. As inovações e as deliberações visam garantir teoricamente a condição inviolável da integridade geral dos gêneros.
(Lucimar Simon)
domingo, 9 de maio de 2010
Texto: O NEGRO: UMA VISÃO HISTÓRICO-SOCIAL
O NEGRO: UMA VISÃO HISTÓRICO-SOCIAL
Falar sobre a etnia negra, não se pode fazer sem falar sobre a escravidão. Não se pode falar sobre o negro sem dizer que ele foi explorado, furtado em sua pátria mãe, e acorrentado a uma terra desconhecida, onde seus corpos e almas não os pertenciam mais. A escravidão de fato juridicamente encerrou-se em 13 de maio de 1888 com a decretação da “Lei Áurea”. Mas a discriminação, o preconceito, a exclusão do negro da esfera social sempre estiveram ativa e ainda esta presente em nossa atualidade.
E hoje como o negro é reconhecido historicamente? E hoje como esse negro é mencionado na história brasileira? Ainda hoje a historiografia brasileira está presa em uma visão deturpada da história do negro. O negro nos livros didáticos e nas narrativas está sempre preso a velhos conceitos, está sempre relacionado à escravidão, aos castigos corporais, quando um negro é mencionado numa página de jornal é nas páginas policiais ou nos esportes, ainda bem que nos esportes se destacam e com grande honra.
A sua liberdade não foi conquistada diz a história, foi cedida pelo homem branco que reconhece não mais ser viável, a humanização do negro lhe foi presenteada, logo a condição de ser livre foi dada pelo seu senhor. Os livros e a historiografia não dão respaldo a sua resistência, a sua luta. Com essa visão, como pode o negro criar sua identidade? Como pode o negro se reconhecer e se compreender dentro da sua virtude? Como pode o negro querer ser negro numa sociedade onde o preconceito velado o prende as correntes invisíveis, mas que são sentidas entre as frestas de janelas ao passar numa rua fora de seus espaços comuns.
Como ser negro numa sociedade onde os próprios negros querem ser brancos? Como ser negro onde os próprios negros não se reconhecem como negros? Pesquisas são deturpadas os conceitos e denominações mudam durante o tempo. Um dia eram escravos sem almas, depois pretos, logo após negros e agora a denominação atualizadíssima, chamada “afros-descendentes” chique não? Agora os negros são afros-descendentes. A denominação mudou, mas a visão social não. Complicado não? Muito complicado.
(Lucimar Simon)
Falar sobre a etnia negra, não se pode fazer sem falar sobre a escravidão. Não se pode falar sobre o negro sem dizer que ele foi explorado, furtado em sua pátria mãe, e acorrentado a uma terra desconhecida, onde seus corpos e almas não os pertenciam mais. A escravidão de fato juridicamente encerrou-se em 13 de maio de 1888 com a decretação da “Lei Áurea”. Mas a discriminação, o preconceito, a exclusão do negro da esfera social sempre estiveram ativa e ainda esta presente em nossa atualidade.
E hoje como o negro é reconhecido historicamente? E hoje como esse negro é mencionado na história brasileira? Ainda hoje a historiografia brasileira está presa em uma visão deturpada da história do negro. O negro nos livros didáticos e nas narrativas está sempre preso a velhos conceitos, está sempre relacionado à escravidão, aos castigos corporais, quando um negro é mencionado numa página de jornal é nas páginas policiais ou nos esportes, ainda bem que nos esportes se destacam e com grande honra.
A sua liberdade não foi conquistada diz a história, foi cedida pelo homem branco que reconhece não mais ser viável, a humanização do negro lhe foi presenteada, logo a condição de ser livre foi dada pelo seu senhor. Os livros e a historiografia não dão respaldo a sua resistência, a sua luta. Com essa visão, como pode o negro criar sua identidade? Como pode o negro se reconhecer e se compreender dentro da sua virtude? Como pode o negro querer ser negro numa sociedade onde o preconceito velado o prende as correntes invisíveis, mas que são sentidas entre as frestas de janelas ao passar numa rua fora de seus espaços comuns.
Como ser negro numa sociedade onde os próprios negros querem ser brancos? Como ser negro onde os próprios negros não se reconhecem como negros? Pesquisas são deturpadas os conceitos e denominações mudam durante o tempo. Um dia eram escravos sem almas, depois pretos, logo após negros e agora a denominação atualizadíssima, chamada “afros-descendentes” chique não? Agora os negros são afros-descendentes. A denominação mudou, mas a visão social não. Complicado não? Muito complicado.
(Lucimar Simon)
domingo, 2 de maio de 2010
Texto: RESUMO SOBRE O EVENTO: CONFERENCIA DE ABERTURA (16/11/2009)
RESUMO SOBRE O EVENTO: CONFERENCIA DE ABERTURA (16/11/2009)
O II Congresso Internacional UFES / Université de Paris-Est, cujo tema central é Cidade, Cotidiano e Poder! Após uma bela apresentação do Coral da Ufes teve inicio a apresentação dos componentes da mesa e uma pequena explanação de cada autoridade ali presente embasado numa discussão política, social, cultural e econômica o encontro visa esclarecer os principais problemas e agravantes nas cidades atuais. De fato, a cidade é uma notável fabricação do intelecto das sociedades humanas na sua interação com o meio-ambiente, uma maneira peculiar de o homem tornar familiar o espaço no qual habita, transformando-o, segundo suas necessidades e desejos, num espaço simbolizado, adornado e revestido de cultura. Desse modo, os estudos sobre os problemas urbanos, dentre os quais a rua ocupa uma posição preeminente, cumprem uma tripla função: informativa, lúdica e simbólica.
Apreendida sob esta lógica, a cidade é incessantemente construída e reconstruída pelos grupos sociais em permanente interação, cada qual ao seu modo. A idéia de cidade, uma cidade modelada segundo propósitos, pressupostos, intenções particulares a cada grupo desemboca amiúde em uma ação efetiva sobre o solo citadino visando a torná-lo mais adequado à vida em comunidade mediante a ordenação de um território. Nesse sentido, pretende-se promover um debate acerca das políticas públicas urbanas a partir de uma perspectiva histórica, de modo a perceber como, no passado, as sociedades lidaram com a tarefa de organizar o território citadino.
Em evidencia fica a reflexão sobre as mudanças no espaço e no tempo fica em debate o sentir das emoções, o sentir e o gostar de viver nas cidades. Os cenários os problemas e as possibilidades de mudanças estão claramente exposto. Em tom tanto historicamente, geograficamente, socialmente, politicamente, segue a apresentação do convidado especial da noite o renomado professor da Université de Paris-Est, Fréderic Moret (UPE). Sua fala seguiu relatando como a cidade de Paris consegue com muita dedicação e vontade política melhora e ampliar sua infra-estrutura, caracterizando uma grande evolução do conceito de tratamento de água, sistema de rede e esgoto, saúde, administração e outros problemas ligados diretamente às sociedades urbanas. Seguindo esta lógica, o entendimento resume-se em melhorias nas políticas de administração publica, para com isso uma tentativa de minimizar os agravantes na realidade das nossas cidades.
(Lucimar Simon)
O II Congresso Internacional UFES / Université de Paris-Est, cujo tema central é Cidade, Cotidiano e Poder! Após uma bela apresentação do Coral da Ufes teve inicio a apresentação dos componentes da mesa e uma pequena explanação de cada autoridade ali presente embasado numa discussão política, social, cultural e econômica o encontro visa esclarecer os principais problemas e agravantes nas cidades atuais. De fato, a cidade é uma notável fabricação do intelecto das sociedades humanas na sua interação com o meio-ambiente, uma maneira peculiar de o homem tornar familiar o espaço no qual habita, transformando-o, segundo suas necessidades e desejos, num espaço simbolizado, adornado e revestido de cultura. Desse modo, os estudos sobre os problemas urbanos, dentre os quais a rua ocupa uma posição preeminente, cumprem uma tripla função: informativa, lúdica e simbólica.
Apreendida sob esta lógica, a cidade é incessantemente construída e reconstruída pelos grupos sociais em permanente interação, cada qual ao seu modo. A idéia de cidade, uma cidade modelada segundo propósitos, pressupostos, intenções particulares a cada grupo desemboca amiúde em uma ação efetiva sobre o solo citadino visando a torná-lo mais adequado à vida em comunidade mediante a ordenação de um território. Nesse sentido, pretende-se promover um debate acerca das políticas públicas urbanas a partir de uma perspectiva histórica, de modo a perceber como, no passado, as sociedades lidaram com a tarefa de organizar o território citadino.
Em evidencia fica a reflexão sobre as mudanças no espaço e no tempo fica em debate o sentir das emoções, o sentir e o gostar de viver nas cidades. Os cenários os problemas e as possibilidades de mudanças estão claramente exposto. Em tom tanto historicamente, geograficamente, socialmente, politicamente, segue a apresentação do convidado especial da noite o renomado professor da Université de Paris-Est, Fréderic Moret (UPE). Sua fala seguiu relatando como a cidade de Paris consegue com muita dedicação e vontade política melhora e ampliar sua infra-estrutura, caracterizando uma grande evolução do conceito de tratamento de água, sistema de rede e esgoto, saúde, administração e outros problemas ligados diretamente às sociedades urbanas. Seguindo esta lógica, o entendimento resume-se em melhorias nas políticas de administração publica, para com isso uma tentativa de minimizar os agravantes na realidade das nossas cidades.
(Lucimar Simon)
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