Páginas

domingo, 17 de outubro de 2010

Texto: A FUNDAÇÃO DA ABADIA DE CLUNY E A SUA APOLOGIA

A FUNDAÇÃO DA ABADIA DE CLUNY E A SUA APOLOGIA

A consolidação do poder da Igreja Cristã passou por diversas etapas, a criação de diversas ordens monásticas foi também parte deste processo, bem como fundação de monastérios e abadias com a de Cluny, Gorze, Cister entre outras. Vários autores vão relacionar estes momentos com maior ou menor intensidade, as vezes dando ênfase em uma ou outra ordem, mas não negando a importância de todas e classificando suas principais características, entre essas em comum temos “As Regras de São Bento” que regem a maioria dessas ordens monásticas. Santo Agostinho também vai influenciar estas ordens, porém as regras beneditinas vão predominar em Cister, Gorze e Cluny.

Quando Guilherme o Pío, duque de Aquitânia, eu (11 de Setembro de 910), decidiu fundar um mosteiro em suas terras, "para a salvação de sua alma", deu sua propriedade aos apóstolos Pedro e Paulo, como sabemos, mas concretamente confiou-a ao abade Bernon. Este era da Borgonha, de uma família nobre, que já havia fundado a abadia de Gigny em suas próprias terras. Ao tempo da fundação de Cluny, Bernon já era abade Gigny e de Baume-les-Messieurs, e conservando sua autoridade sobre estas duas casas. Recebeu depois três outras abadias, afora diversas comunidades que se pediu que reformasse e sobre as quais também exerceu sua autoridade abacial.

A reforma de Cluny, que basicamente continuou na mesma direção, chegou a um impasse. A reforma carolíngia enfatizava de novo o papel do abade, mas ao mesmo tempo enfraquecer a autoridade do abade local em seus esforços por um controle centralizado da reforma através de todo reino. Com Cluny, a liberdade da intervenção externa dos senhores feudais foi adquirida, mas ao custo da autonomia local. O papel do abade de Cluny foi tão alargado a tal ponto que todos os monges de todas as casas dependentes serem "seus" monges e fazerem sua profissão para "sua" abadia de Cluny. E garantindo sua ascensão e propagação por toda a França e Europa mostrando força e poder ao mundo religiosa.

Uma das coisas que ficam claras, no testamento doação de Guilherme é a sua vontade de como seja a Abadia e os preceitos da ordem. Quanto a isso Ele o faz com que sejam cumpridas algumas ressalvas, como que seja seguida as regras de São Bento, além da libertação dos monges do poder político ou de qualquer soberano da Terra cabendo a eles apenas responderem as coisas e as leis divinas dos céus. A Abadia de Cluny era isenta até mesmo de ações intervencionistas do próprio papa, bispos, reis, condes, cabendo apenas a Deus seu julgamento.

“Num primeiro momento, a organização da hierarquia eclesiástica visava á consolidação da recente vitória do cristianismo” (Franco Junior, Hilário), logo estes mecanismos de expansão das ordens, casas e monastérios era importantes para este objetivo. Aproximando-se do poder político a Igreja garantiu maiores atuações, e sua separação da sociedade laica e procurando sempre dirigi-la e buscando desde inicio do século XI uma teocracia que esteve próxima de se realizar no século XIII, como bem afirma em seus estudos Franco Junior.

Mas este poderio da Igreja não foi sempre evidente ele foi construído ao longo dos séculos por intervenções dos bispos de Roma, e uma forte campanha pela tomada do poder temporal e espiritual para o papa de Roma. Para atingir este objetivo, vários argumentos foram levados em conta, como exemplo a sucessão do trono de Pedro apostolo pelo bispo de Roma, alem da governancia do povo de Deus por um escolhido por Deus.

Entre os bispos de Roma que se destacaram na empreitada de consolidação do poder da igreja foi Gregório VII, criando varias leis e um código o qual submetia o poder temporal ao poder espiritual. Mas a Igreja não faria isso sem enfrentar a resistência dos príncipes. (Neto Batista, Jônatas) em seus estudos deixa isso claro, afirmando a questão das investiduras e o confronto entre o bispo de Roma e os reis e imperadores estiveram neste cenário analisadas. As investiduras segundo (Neto) é a questão mais polemica e antiga entre leigos e a Igreja Medieval.
Regra de São Bento sobre trabalho manual

São Bento, escreveu uma Regra para os mosteiros: e embora ele próprio tenha fundado diversos mosteiros, não previu nada que dissesse respeito à relação entre os mosteiros. A autonomia de uma comunidade monástica é algo de muito precioso e os monges sempre foram ciosos de preservá-la. Pode também ser uma fraqueza, entretanto, em tempo de crise - quer interna, quer externa. Por essa razão, a necessidade de certos laços institucionais entre os mosteiros foi sentida muito precocemente. No monastério ocidental, a primeira tentativa de criar tais laços institucionais foi feita no tempo da reforma carolíngia.

Pode-se dizer que a regra tem sido um guia, ao longo da sua existência, para todas as comunidades cristãs da Cristandade Católica e, desde a Reforma Protestante, também aplicável às tradições Anglicana e Protestante. “O Abade digno de presidir ao mosteiro deve lembrar-se sempre daquilo que é chamado, e corresponder pelas ações ao nome de superior. Deve sempre lembrar o Abade daquilo que é; lembrar-se de como é chamado, e saber que daquele a quem mais se confia mais se exige”.

A Regra de São Bento serve como uma norma de vida para todos os beneditinos e cistercienses contemporâneos. Este pequeno documento é composto por um prólogo e 73 capítulos. Foi escrito pelo próprio São Bento, provavelmente em etapas sucessivas, entre os anos 520 e 547. É uma regra vivida, feita da experiência e percepção. Mesmo que vários detalhes não estão mais observados em nosso tempo, a Regra nos providencia um estilo de vida equilibrado juntando a oração comunitária e pessoal, o trabalho e a vida fraterna. Ele vai dizer que devemos constituir "uma escola de serviço do Senhor, onde com o progresso da vida monástica e da fé, pode-se correr com o coração dilatado e com uma indizível doçura de amor o caminho da salvação". Tanto pelos seus conselhos sábios quanto pelos seus apelos em prol das atitudes positivas, a Regra serve como um guia espiritual para os leigos também, principalmente, porém, não exclusivamente para aqueles que participam no movimento dos seguidores de São Bento.

(Lucimar Simon)

Nenhum comentário: